Em liberdade, a abstenção será um direito?

É essencial reconhecer que cada voto conta e que a participação coletiva pode mudar o curso da história. Eleições são oportunidades para os cidadãos expressarem suas opiniões, escolherem seus líderes e influenciarem as políticas públicas. Apesar de cada um poder decidir se vota ou opta pela abstenção, esta última opção é uma renúncia à oportunidade e ao direito de fazer ouvir a sua voz. A democracia só será plena e efetiva com a participação de todos.

A democracia encoraja todos a exercerem seu direito de voto. Não apenas como um dever cívico, mas como um ato de poder individual e coletivo. Através da participação, todos os cidadãos podem fazer-se ouvir de igual forma, fazendo com que o futuro reflita as escolhas e valores coletivos.

Onde irá parar a abstenção?

O gráfico (fonte: PORDATA) evidencia a evolução da taxa de abstenção nas eleições legislativas em Portugal, de 1975 a 2022. A tendência é de aumento da abstenção ao longo do tempo, refletindo mudanças no comportamento eleitoral e na relação entre os cidadãos e o sistema político.

Quais são os perigos da abstenção elevada?

Numa democracia, o voto é mais do que um direito, é uma ferramenta poderosa através da qual os cidadãos têm a capacidade de influenciar o futuro do País, da comunidade e da vida. Quando se opta pela abstenção, abdica-se desse poder, o que pode acarretar consequências e afetar profundamente o tecido social e político da Nação.

  • A primeira e mais evidente consequência da abstenção é a erosão da representatividade. Quando uma significativa parcela da população escolhe não votar, os eleitos não refletem a vontade da maioria. Este facto pode conduzir a políticas que não respondem às necessidades ou desejos da população, criando um ciclo de descontentamento.

  • A abstenção pode intensificar a polarização política. É frequente serem os eleitores mais “moderados” a absterem-se de votar, enquanto os extremos políticos tendem a votar com mais consistência. A ocorrência sistemática deste fenómeno pode resultar em governos mais polarizados, menos abertos ao diálogo social, à negociação e à implementação de políticas equilibradas.

  • Um eleitorado menos participativo dá espaço para que pequenos grupos de interesse exerçam pressão desproporcional sobre os decisores políticos e influenciem as políticas, o que pode conduzir a uma governança que favoreça interesses específicos, em detrimento do benefício comum.

  • Altas taxas de abstenção podem pôr em causa a legitimidade das instituições democráticas. Quando uma parte significativa da população não participa do processo eleitoral, a base de apoio ao governo eleito é enfraquecida, o que pode colocar em causa a autoridade para a implementação de novas políticas.

  • A longo prazo, a abstenção pode contribuir para a erosão da confiança no sistema democrático como um todo. A perceção de que o voto individual não é relevante ou que as políticas implementadas não têm impacto na vida pessoal, pode promover a redução do envolvimento, criando um círculo vicioso de desconfiança e desinteresse.